jump to navigation

Quatro balas na recâmara

6 de Xaneiro 2007 - Enviado por gaitomano a: Escritos,Novas
Trackback

Dedicado a Guadi Galego, Ugia Pedreira, Ramom Pinheiro e Pedro Pascual por tudo o aprendido e/ou desaprendido, que já não lembro bem.

A bala da recâmara é a bala tímida, a importante, a surpresa final, a melhor trabalhada, a desejada, a temida, agochada trás das suas irmãs que já voaram. Na música na Galiza ultimamente há muitas balas na recâmara, que saíram ao mesmo tempo impredizível, após um trabalho de anos consistente, duro, sem possibilidade de ser raiado com a facilidade do passar do tempo. Uma música sobretudo autoral, reelaborada com ingredientes subcutáneos que nos atacam a dermis, que a redescobrem. Quando naqueles míticos anos 80 Golpes Bajos, Siniestro Total, Os Resentidos e Aerolíneas federales compartilhavam recursos e cantantes, e as letras tinham autores, e provocar e desfrutar era o bem mais procurado descubri que era possível e-mocionar-se com quatro a um tempo. O meu campo era batido, semeado por umas balas de “movida” com sabor a vinilo. Foi o começo desta história.

Assim, vintecinco anos mais tarde, o presente ofereceu-nos, mais uma vez, quatro maravilhosos discos que nos baleiam os sentidos, todos de uma qualidade extrema, saídos nao por acaso de toda a geografia musical galega, já nao dos bairros de vigo, mas que partilham como aqueles, cantores e recursos, umas obras cheias de criaçao, letras excepcionais, misturas e reelaboraçoes contemporâneas, banhadas com algas verdes, regadas com águas de sifão, sublimadas com águas do mar do norte, deixando-nos a todos espidos.

Espido, 10.0, Marful e Nordestinas é sota, cavalo, rei e ás, os valores mais altos para jogar um bom tute na partida da contemporaneidade ecléctica. Um eclecticismo que surprende nesta terra onde a música folque tende a reivindicar o passado como futuro, ou que por vezes innova recuando.

Espido, 10.0, Marful e Nordestinas é música para viver o dia inteiro, as estaçoes todas, para incorporar-nos activamente, para saber que somos mundo.

E pedindo, peço, um Espido para um verao de luz brilhante com quadro do Pedroso ao fundo, com uma guitarra e nao uma, mas a voz. Um Espido numa Praça das Praterias com espantosos turistas confundindo o altar do zebedeu com um cenário honesto a duo, com um atrevimento a duo, porque espir-se é sempre uma aventura rodeada de colcheas, mínimas, semibreves ou negras, que há para todos os gostos.

E pedindo, peço um 10.0 de versao de programa asentado definitivo, ensarilhado, batido polas algas verdes, com esse som particular, esses instrumentos que falam, essa voz que toca.

E pedindo, peço um Marful para uma dança de Tom Zê, filho da prática, filho da táctica, filha de maquiná, escrupulosamente sentida, necessária, com um cenário mágico de músicos que sabem que a soma de dous mais dous sao vinte e dous todos com sabor diatónico, com uma deusa no cenário.

E pedindo, peço um Nordestinas de piano de cauda absolutamente eficaz para compreender que o ataque das teclas brancas e pretas, binárias, forma um todo, um conjunto lógico de jazz, uma ferramenta para elevar aos altares as vozes de Guadi Galego e Ugia Pedreira distanciadas no cenário a 1.25m, que cria exactamente uma oitava entre cedeira e a marinha.

E pedindo, peço que se continue a experimentar com a vantagem de poder ter um estúdio de música na casa para os novos criadores, que presentear MP3 é e-mulear concertos futuros, que a tecnologia informática é um oásis para a nova música.

E pedindo, peço porque é Nadal, que haja comida para todos, que o IPC nao suba mais ainda a qualidade destes discos, que num país multicolor nasceu uma arnela baixo o sol, que desejava de te ver 33 r.p.m cada vez, que ileailererelelerelerelrerelele como queres que te queira, irrepetível, que lalim é o centro geográfico da galiza, que o diatónico também usa palhetas, que tenho contadas as balas da música de recâmara, e que contei quatro.

_________________________________________________________
José Ramom Pichel Campos

Comentarios

1. Patricia - 6 de Xaneiro, 2007

Verbas ben acertadas as túas, Pichel, que acaban de transportarme aos recordos dun 2006 no que tanta música descubrín, e da que tan prendada fiquei para sempre.
Dende as primeiras notas do Leverelem marfuliano nun ateigado auditorio de Compostela unha incrible tarde de xuño, ata o Falar de amores de Nordestin@s que soa agora nesta habitación, pasando por unha noite na Quintana con esa voz e esa guitarra espidas, ou aquel concerto de Berrogüetto no que “as penas van á deriva”.
Unha por unha esas catro balas das que falas non deixaron de aloumiñarme os ouvidos.
Sentirse espida ante todos estes “valentes con valor”, xenios ao fin e ao cabo, agasallarse música en forma de praza chea de xente, en forma de cd para escoitar a soas, ou en forma de costureiro diatónico aprendendo a darlle puntadas ás primeiras notas.
Música, música, música.

2. mauro - 9 de Xaneiro, 2007

canta razzzón levas, Pichel.
Lalín, centro xeográfico. Mágoa que more eu na periferia da periferia e que erguerse con espertador un sábado sexa algo tan nugallán. Seguro que Benxamín, o profe de Linguaxe musical, está dacordo comigo.